sexta-feira, 31 de julho de 2009

Ocupação do Interior Paraibano

Ao escrever em 1627, a primeira História do Brasil, o Frei Vicente do Salvador comentou que os portugueses ficavam “arranhando as costas litorâneas como caranguejos”, isso se deve pela insistente ocupação litorânea, onde a maior preocupação era explorar e exportar. Essas eram as características da colonização portuguesa, onde as atividades que gerassem maior lucro e tivessem maior mercado, seriam adotadas em suas posses. Nesse período as maiores fontes de riqueza na colônia ainda eram a extração de pau-brasil e a produção de açúcar nos engenhos. Disse um desses produtores “não deixo de plantar um só pé de cana, no perigo de renegar a melhor fonte de lucros da colônia,” depoimento esse que reflete a ação típica de uma colônia de exploração.
Porém a ocupação do interior e dos sertões se deu pela necessidade de buscar outras fontes de riqueza e pela efetiva ocupação do território, constantemente ameaçada por estrangeiros e pelos indígenas que resistiam a ocupação de suas terras. Além disso, o incentivo do governo português concedendo sesmarias (lotes de terras) a quem desbravasse o interior, atraia um grande número de aventureiros. Com esse propósito, frentes de ocupação foram criadas, entre elas distingue-se as entradas, bandeiras, missões e criação de gado.

De uma maneira geral as causas das investidas sobre o interior do Brasil foram:
- a busca de ouro e metais preciosos;
- a preação do índio para substituir o negro que se tornava peça cada vez mais cara;
- o espírito aventureiro do português que se sentia atraído pelo desconhecido e pela possivel riqueza que poderiam encontrar, uma idéia bem explicada pelo mito do “El Dourado”. Prestando serviços ao seu rei, sabiam que seriam bem recompensados;
- a facilidade em se obter sesmarias (terras incultas, não povoadas que o rei concedia a quem quisesse e pudesse desbravá-las e povoá-las à sua custa);
- a criação do gado.
- Missões de catequização dos nativos:

Na Paraíba essas quatro últimas causas foram responsáveis pelo desbravamento do seu interior sendo a criação do gado a principal, o que destaca o papel fundamental dos vaqueiros e tropeiros. Na Paraíba como em todo o Brasil, desenvolveu-se no litoral, a lavoura do açúcar tinha enriquecido tanto essa região que os seus moradores não manifestavam o menor interesse em se fixarem em terras distantes do mar. Os limites da Paraíba até 1650, para o Oeste, não iam além da montanha de Copaoba, hoje Serra da Raiz. Reforçando esta prática a Carta Régia de 1701, proibia a criação de gado a menos de 10 léguas da costa. O gado foi introduzido no Brasil por Tomé de Sousa em 1530 que o destinou para a Bahia e Pernambuco, e estes foram portanto, os principais focos de penetração para o interior.

Vias de Penetração da Paraíba
A penetração na Paraíba deu-se na metade do século XVII, por três vias distantes e opostas;
- pela subida do rio Paraíba
- pelas nascentes desse rio
- ao longo do Rio Piancó.


Observe no mapa a localização e os percurssos dos rios paraibanos, assim, você pode traçar a trajetória dos sertanistas em nosso Estado.


O rio Piancó tem suas cabeceiras no divisor de águas com o Pageú, afluente do médio São Francisco, também chamado de Rio dos Currais, pela sua grande quantidade de criações em suas margens. O Pageú foi o caminho para o povoamento da parte ocidental da capitania, comunicando a região do São Francisco com a parte do Piranhas. Transpondo os colonizadores, rumo ao norte as nascentes do Pageú, caiam no vale do Piancó e estavam na região do Piranhas.
Marchando pela Borborema, partindo do Moxotó, alcançavam as cabeceiras do Paraíba, entravam nos Carirís Velhos. Seguindo de leste a oeste pelo curso do Paraíba, em sentido inverso, entravam na mesma zona dos Carirís Velhos. Portanto, vindo do interior baiano e pernambucano subiram para a Paraíba.

Primeiros Desbravadores
Os Oliveira Ledo;
Os Garcia d’Avila (Casa da Torre);
Manoel de Araújo Carvalho.

Os Oliveira Ledo
Antônio De Oliveira Ledo – penetrando no território pelo rio Paraíba, Antônio de Oliveira Ledo fundou o primeiro núcleo de colonização do nosso Estado, numa fenda da Serra de Carnoió, hoje a cidade de Boqueirão. Seguindo Antônio de Oliveira o curso do rio Paraíba, deste passou para o Taperoá e descendo a Borborema, seguindo o rio da Farinha, entrou nas Espinharas. Estacionou “no lugar onde hoje se encontra a cidade de Patos e aí fundou “as sesmarias”. Seguindo o rio Espinharas, Antônio de Oliveira Ledo foi até o Rio Grande (do Norte). Daí regressou para Boqueirão. Quando o capitão-mor da Paraíba soube do grande feito de Antônio, convidou-o a fazer uma entrada Leste-Oeste. E ao chegar no oeste paraibano, Oliveira Ledo encontrou entradistas da Casa da Torre, sem que a capital tivesse conhecimento do fato. Pelo grande feito Antônio de Oliveira Ledo recebeu, em 1682, a Patente de Capitão, de Infantaria da Ordenança do Sertão da Capitania da Paraíba.

Constantino De Oliveira Ledo – continuou o trabalho do seu tio Antônio. Já o tinha acompanhado desde sua primeira entrada, como também na viagem empreendida de leste para o oeste. Recebeu a alta patente de Capitão-Mor das Fronteiras das Piranhas, Carirís e Piancós. Quando Constantino recebeu essa alta patente, os tapuias estavam sublevados. Enfrentou os índios em guerra e arriscou várias vezes sua própria vida. Faleceu em 1694. O posto foi ocupado pelo seu irmão Teodósio.

Teodósio De Oliveira Ledo – é considerado o mais cruel dos desbravadores. Foi incansável na sua luta para a dominação dos Tapuias. Em 1697, aldeiou os ariús numa grande campina, local onde hoje é Campina Grande. Em 1698, percorreu pleno território selvagem. Penetrou nos sertões de Piancó e em Pau Ferrado, acampou. Daí marchou na direção Oeste e chegou até o Rio Grande do Norte (Apodi). Voltou para as Piranhas, fundou um Arraial para segurança dos seus moradores, que criavam gado na região.
A linha de Penetração de Teodósio teve seu ponto terminal, no lugar onde hoje se ergue a cidade de Pombal, cujo local chamava-se antigamente de Povoação de Nossa Senhora do Bom Sucesso de Piancó. A povoação de Bom Sucesso de Piancó compreendia a região. Piancó, não se refere ao rio mas a toda região.
Em torno dessa figura se criou o mito do grande herói desbravador, civilizador e cristianizador do que teria fundado Campina Grande, esse mito está presente na narrativa de alguns escritores que acabam perpetuando essa idéia, exemplo disso é o trecho de um trabalho dos alunos de uma escola de Campina Grande que diz:
“Assim podemos observar que Teodósio de Oliveira Ledo consolidou a Conquista do Sertão. Pagou um preço muito alto porque para muitos ele foi cruel no extermínio dos tapuias. Na época porém, havia outra solução? Os índios amavam demais à sua terra e por ela matavam ou morriam e é muito fácil fazermos uma idéia do que seja mil ou milhares de tapuias sublevados.”

Monumento em memória de Teodósio de Oliveira Ledo, localizado na Praça Clementino Procópio

Os Garcia D’avila (Casa da Torre).
Francisco Dias d’Avila – era sucessor de Pe. Antônio Pereira e Senhor da Torre, protegido de Tomé de Sousa, estabeleceu, de início, os seus currais na Bahia. Depois suas fazendas de gado se espalharam pelo rio São Francisco e chegaram até o Piauí. Talvez o maior dos latifundiário do Brasil. Os senhores da Torre, foram os pioneiros na parte ocidental da nossa capitania, mas não se fixaram nessa região, arrendaram ou doaram suas terras nas ribeiras dos Rios Piancó, Peixe e Piranhas de Cima.

Manoel De Araújo Carvalho - veio pelo Pageú e após um ano de combate aos índios, passou para o Rio das Piranhas, encontrando aí Teodósio de Oliveira Ledo, que estava em guerra com os índios panatís. Vencidos esses indígenas, Manoel de Araújo encaminhou-se para os sertões do Rio do Peixe e Piancó. Essa empresa custou três anos. Depois de várias lutas e com grande diplomacia o coronel Araújo vence os índios, tornando-se assim o grande responsável pela Conquista do Piancó. Foi nomeado Juiz para essa região e exerceu o cargo durante nove anos.

Conseqüências do Desbravamento do Sertão

Guerra dos Carirís
Os índios sempre travaram lutas com os portugueses e por diferentes causas no período colonial. A guerra dos Carirí foi a mais longa. A guerra começou declaradamente em 1687, porém de longa data. Desde que João Fernandes Vieira em 1657, governava a Paraíba, para se vingar dos tapuias que, aliados aos holandeses, lutaram contra portugueses que puseram a ferro dois filhos do principal dos Tapuias. E os índios jamais iriam esquecer tamanha afronta.
Começou a guerra no Rio Grande do Norte, contra os fazendeiros criadores que tinham as suas propriedades assaltadas e devastadas pelos tapuias, que assassinavam os seus moradores e incendiavam as fazendas.
Em 1687, o Governador Geral, Matias da Cunha, enviou recursos para debelar a luta: vieram os bandeirantes paulistas, já afeitos às lutas contra índios. Foram eles: Matias Cardoso e Domingos Jorge Velho. Conflito que foi amenizado em 1692. Aliás, caso inesperado, a mais imprevista das reconciliações: Um português, João Pais Florião, apaixonou-se por uma índia, filha do maioral Nhongue, cunhado do “rei Canindé” e, com palavras amigas, conseguiu que os índios pedissem a paz. Enviaram embaixadas à Bahia dirigida pelo dito Florião. O governador recebeu com festas, em abril de 1692, e como entre potências, pactuaram a paz perpétua. Enquanto o rei Canindé viveu, honrou a sua palavra mas após a sua morte a luta se reascenderia.
No Ceará a conflito teve continuidade a partir de 1694 após à morte do rei Canindé, onde os nativos juntaram-se às outras tribos e recomeçaram a luta que se estendeu por todas as capitanias, isto é, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba. Em 1704, o Rio Grande do Norte foi pacificado. No Ceará ainda houve lutas mas após 1713 considerou-se encerrada a Guerra dos Bárbaros ou Confederação dos Carirí, ou ainda, a Guerra do Açu.
Saiba mais:
Sobre Teodósio
Sobre a História de Campina Grande
Baixe a apostila de História da Paraíba

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Mentalidade e Anacronismo

s historiadores trabalham com conceitos que são bastante pertinentes aqui serem colocados, os conceitos de mentalidade e contexto. A mentalidade é construída a partir de uma realidade que é pensada é dada a ler, ou seja, os discursos proferidos sobre alguém ou algo podem criar um significado que na verdade ele não possui, mas que o pensamento coletivo começa a interpretá-lo, concebê-lo de tal forma, assim se torna uma mentalidade coletiva. O contexto é algo que sempre se deve lembrar antes de qualquer leitura do passado. Por exemplo, o trabalho escravo (principalmente o colonial) e toda a sua violência e exploração, hoje é inconcebível, mas para a época era algo indispensável, não se pensava a produção e a riqueza sem ele (inclusive na África a escravidão era algo usual).


Temos que pensar o nazismo como um fruto do contexto. Na época de seu surgimento, parecia uma das poucas alternativas para o povo alemão que se via com fome, explorado, roubado e ferido quanto a sua nacionalidade, já que pesadas penas foram impostas sobre a maioria que sofria com a grave crise econômica e social. Os "judeus" (estrangeiros) lhes “roubavam” as riquezas e seus empregos. Hitler era visto como um "salvador da pátria", um cara que iria retomar o crescimento do país e preservar a propriedade da elite (o partido Nacional Socialista de socialista tinha apenas o nome, pois para chegar ao poder se rende ao capital burguês para não implantá-lo e criar a política anti-comunista). Por tanto, para os judeus (estrangeiros) foi uma tragédia, mas para os alemães foi uma alternativa. A mentalidade coletiva deveria ser direcionada a pensar dessa forma. O nazismo chegou ao poder pelo povo que queria mudanças.


Por isso, devemos olhar com cautela o crescimento de movimentos que aproveitam-se do momento de fragilidade e de fraqueza de nossa sociedade para sobrepôr e influenciar a população a partir de uma ideia de mudança. Os skinheads encontram-se espalhados pelo mundo inteiro e o número de membros vem aumentando ao longo do tempo. É um grupo presente em nossa sociedade caracterizado pela ideologia da raça soberana e tem relação com os ideais neonazistas, os quais pregam que existe somente uma raça superior e pura que tem o direito de viver nesse mundo. Há diversos grupos disseminados pelo país, em especial no Estado de São Paulo, um dos mais famosos grupos paulistas de skinheads é o “Carecas do ABC”, carecas vem da tradução de skinheads. (Assista o documentário "A Cultura do Ódio", exibido pelo programa Documento Especial em 1992)






Não existe uma explicação plausível para os fundamentos utilizados pelos skinheads, que afirmam que esses são a verdadeira raça nacional, e quais são os aspectos que os tornam melhores que outras pessoas. Sociólogos, psicólogos, entre outros profissionais, ainda não encontraram essa resposta, deixando a incógnita para o futuro. Na verdade, o que temos que enfocar é a compaixão o amor ao próximo, bem como a ética, algo diferente da moral, pois é interior, pois esses sentimentos devem estar acima do que se acha ser interesses de todos, pois esses podem ser construídos, os direitos individuais devem ser preservados e o radicalismo esquecido. A história nos ensina a não repetirmos os mesmos erros, mas julgar o passado é anacrônismo.